Texto: Dai Sifu Victor Gutiérrez
1ª Parte
O que é que habitualmente vem determinar o facto de um praticante de Artes Marciais ter um grau mais avançado do que o outro?
Por que motivo se diz que um sistema é mais completo que outro?
Provavelmente a resposta seja: O domínio de um maior numero de técnicas! Dado que em combate não podemos prever o que fará o adversário, quantas mais técnicas treinamos, mais recursos havemos de possuir. Daqui vem supor que quantos mais anos de pratica alguém tiver, mais nível terá alcançado, pois considera-se que terá aprendido e treinado maior diversidade de ataques e defesas. Aplicando estas razões ao estudo comparativo de estilos diferentes, é lógico afirmar que um método que possui cem técnicas, é superior a outro que só abrange cinquenta técnicas. De facto, em qualquer campo do saber e da vida, observamos esta regra: um engenheiro, um médico ou um advogado, serão mais eficazes na sua profissão quantos mais conhecimentos e experiências acumularem. Não é em vão quando dizemos de alguém que tem mais experiência, simplesmente afirmamos que sabe mais por ter visto e ter vivido mais coisas, ou o que para o caso é o mesmo: maior informação. No entanto, o combate real, uma situação de defesa pessoal, apresenta uma diferença capital com respeito de outras actividades ou profissões. Falamos de um combate real e não de um desporto. No desporto podemos apreciar o inimigo com meses de antecedência e programar os treinos de maneira específica, conforme as características do contrário: “se é canhoto, se prefere ou não a distância curta, se tem alguma técnica favorita, etc.…” Tanto os pugilistas como os lutadores de vale tudo, UFC, etc.…, ou os jogadores de futebol, agem assim. Além disso, durante o decorrer do combate há descansos ou paradas que dão tempo para pensar e os treinadores aconselharem os seus pupilos.
No combate real tudo é desconhecido: o adversário, o dia, a hora, o lugar, o que estaremos fazendo nesse momento. E além disto, não há tempo para pensar. Um médico, um advogado no seu trabalho, têm tempo para pensar, analisar ou mesmo consultar aquilo que vão fazer; um lutador não. Provavelmente será o combate real a única situação humana em que devemos dar resposta inteligente a um problema de vida ou de morte, sem ter tempo para pensar ou raciocinar a nossa reacção.
Por isso, a recomendação mais habitual é que as técnicas têm de ser treinadas até ser automáticas, inconscientes. Assim consegue-se a máxima velocidade e a defesa será a mais efectiva possível.
Está o leitor de acordo com tudo quanto agora foi dito? Se assim é, tenho más notícias. É fisiologicamente impossível ser tão rápido como o atacante. Espere um pouco antes de responder e deixe-me expor alguns dados:
Em primeiro lugar vamos descrever o processo de defesa frente a um atacante qualquer:
- Detecta o ataque
- Reconhece as suas características (trajectória, objectivo, etc.)
- Eleição da resposta (técnica a empregar)
- Execução da técnica. Tudo isto sem pensar. Claro está que falamos em versados, não em novatos.
Agora vejamos de quanto tempo, como mínimo, precisa o sistema nervoso para fazer isto. Realizemos um experimento.
Na situação mais favorável:
- Psicologicamente: Sem medo, sem insegurança, nem factor supresa.
- Na melhor postura corporal, isto é, preparado de antemão.
- Sabendo antecipadamente qual o ataque que vai ser lançado e por onde (punho direito ao peito e com a mão direita) não tendo que reconhecer o ataque nem escolher a resposta.
- Avisando o momento do ataque, contando de um a três.
- Sem o atacante fazer movimentos de engano ou fintas. Só lançando punho.
- Sendo o defensor um reconhecido especialista, em alguns casos a nível de selecção nacional no seu estilo.
Pois bem, nem sequer nestas condições tão favoráveis, nenhum especialista conseguiu defender sistematicamente um punho directo, lançado de uma distância média, sem preparação. De dez tentativas possíveis, a imensa maioria falhou dez e só uns poucos conseguiram parar um de dez golpes.
O que sucederia numa situação real, na qual o ataque é por surpresa, ignoramos o tipo de golpe e o seu alvo, e na que podemos ser enganados por fintas?
A causa desta incapacidade é que por muito bons que possamos ser, o cérebro demora uma décima de segundo em activar-se, “ligar-se” diríamos, para reagir. De entrada, já levamos uma décima de segundo de atraso.
Vai realizar-se aqui na Escola de Wing Tsun de Sintra, dia 28 de Fevereiro/09 e em Ferreira do Alentejo dia 1 Março/09, mais um Seminário desta Arte, que será leccionado pelo Sifu Javier Gutiérrez.
Horário: Sintra - das 10h às 13h e das 15:15h às 19h
Ferreira do Alentejo: das 10h às 13h
O Seminário está aberto a todos os interessados em aprender a Arte de Combate em Defesa Pessoal!
Informações: wingtsunsintra@hotmail.com